terça-feira, 24 de novembro de 2015

FLUXOS MIGRATÓRIOS NA EUROPA E NA AMÉRICA LATINA

FLUXOS MIGRATÓRIOS NA EUROPA E NA AMÉRICA LATINA

AUTORES: Fernando Santos, Irina Moura, Otávio Santos, Rosenilda Fontes e Sara Lima.

RESUMO: O artigo a seguir aborda o intenso fluxo de pessoas na Europa e na América Latina nos últimos tempos, abordando fatores que levaram a esse fluxo, características e consequências.

PALAVRAS CHAVE: Fluxos migratórios, Europa, sírios, xenofobia, Brasil.

INTRODUÇÃO

Um dos assuntos mais discutidos e questionados no mundo hoje se refere ao deslocamento de pessoas de uma região do globo a outra. A discussão quanto a este assunto, porém, suscita dúvidas. Por que está acontecendo tais deslocamentos? Quais os principais destinos das pessoas? Como essas ações estão acontecendo? E por fim, quais as consequências de tudo isso? É preciso voltar no tempo para entender como tudo isso começou. Para total compreensão do assunto informações de anos atrás, e do presente momento, foram então relacionadas para provar que ações anteriores podem sim ser as fontes dos problemas atuais, que alguns apontam dentro dos fluxos de migração. Por conta de tudo isso a xenofobia volta a entrar em pauta, a abertura de fronteiras para refugiados também, assim como a violência trazida pelo terrorismo. E, por fim, o conceito de fluxos migratórios fica como que turvo, ou embaçado, por causa de todos os problemas que o cercam.

Denominamos fluxos migratórios o ato de se locomover, ou se mudar, do seu país de origem para outro país. Estes fluxos geralmente são motivados por respectivas mudanças na vida dos imigrantes, como por exemplo a busca por instabilidade financeira, fugir da miséria, dos conflitos civis, conflitos religiosos, perseguições terroristas e de cenários deixados por desastres naturais (terremotos, furacões, tsunamis etc.), em um resumo a busca de uma vida melhor. Esta movimentação faz parte da história da humanidade. Porém temos presenciado nos últimos tempos um aumento de imigrantes chegando as fronteiras europeias. Quais são os motivos?

A Guerra na Síria e seus recentes resultados

A partir do fim de janeiro de 2011, mais especificamente do dia 26 daquele mês, a Síria passou a lutar contra um adversário impiedoso: A própria Síria. Essa guerra cívica resultou em uma grande destruição no território nacional, a desorganização da estrutura política e a morte de milhares de pessoas, muitas em combate, mas muitas outras de forma inocente. Mas o que motiva essa guerra? A maior parte do povo sírio deseja a saída do presidente, e ditador, Bashar Al-Assad que está no poder desde 2000, após a saída de seu pai do poder. Porém a reação do presidente foi no mínimo ríspida, pois convocou o exército para lutar contra qualquer opositor ao seu governo, seja ele manifestante ou um não apoiador. As manifestações no país começaram de forma pacifica, mas com o passar do tempo tomou outras proporções o que levou a guerra. Como consequência a tudo isso, além das que são facilmente perceptíveis aos olhos dos sírios, como a miséria, a pobreza e a destruição territorial, milhares de sírios tem se deslocado de sua terra natal para outros destinos, mas em especial a Europa. Mas por que a Europa? Não seria mais fácil buscar ajuda nos países vizinhos? Essa era a prática adotada em tempos atrás, onde os sírios procuravam o auxílio da Líbia, de Israel ou do Líbano, porém isso mudou a partir do momento em que esses países passaram a rejeita-los alegando que estes sírios poderiam ser agressivos, contrários a ideologia do país, ou até mesmo terroristas, como uma verdadeira fonte de ameaça. Como uma saída para este problema, a não aceitação de países vizinhos, migram para a Europa, ainda que estejam arriscando suas vidas, levando em conta os atrativos europeus. Os atrativos se referem a facilidade de entrar no território europeu, as oportunidades de empregos que por consequência vai trazer uma aparente melhora na condição de vida, e o abandono da condição de miséria. Milhões de pessoas deixaram a Síria em direção à Europa. Países como Alemanha, Itália e Grécia receberam esses imigrantes de braços abertos. Entrando mais de 13 mil na Alemanha, 235 mil na Grécia e 115 mil na Itália. Outros se opõem à entrada desses imigrantes, citando como por exemplo a Hungria, o Reino Unido e a Dinamarca. Mas qual é o real interesse dessa aceitação?

Os europeus têm uma expectativa de vida alta e baixo índice de natalidade. Ao aceitar imigrantes a Europa, tem a garantia de que a sua população não irá diminuir. Outro fator que determina essa aceitação é que numa estratégia de levantar a sua economia, determinados países recebem imigrantes que aceitam trabalhar em troca de salários muito baixos, já que sua expectativa é mudar de vida, salários esses que cidadãos europeus não aceitariam. Essa ideia, considerada repugnante para alguns, faz lembrar a posição do filósofo Immanuel Kant, que prezava a valorização do ser humano de forma igual. Se vivesse nos dias atuais Kant veria uma atitude totalmente contrária ao seu pensamento, pois a mão-de-obra por parte dos imigrantes é barata, o que faz baixar o valor dos produtos e que voltam a circular no mercado internacional, consequentemente. Além do mais por terem um alto nível de escolaridade, e formação profissional, cidadãos europeus não aceitam trabalhar em determinadas funções, sobrando vagas nessas áreas. Daí os imigrantes as ocupam.

Precaução ou Xenofobia?

A globalização tem facilitado os fluxos de imigrantes pelo mundo, uma vez que os meios de transporte, a informática, os meios de comunicação têm avançado cada vez mais. Isso tem possibilitado que imigrantes mesmo em países distantes possam sustentar suas famílias e isso é bem visto por estes. Porém a facilidade quanto a entrada no território europeu não significa a aceitação dos habitantes do velho continente. Isso fica bastante evidente nos muitos casos de xenofobia relatados nos últimos tempos. Boa parte dos europeus não aceitam a entrada desses imigrantes. Mas por quê? Isso acontece por medo, aversão ou temor, de que os imigrantes ocupem seu espaço na sociedade e não venham a aderir a cultura europeia, permanecendo com suas próprias culturas, idiomas nativos e tradições. Além disso a xenofobia também é impulsionada pela preconceituosa ideia de que os povos estrangeiros são os culpados pela desaceleração no que diz respeito ao ritmo de crescimento da economia. Outro contribuinte para incidentes xenofóbicos é o fato de que a Europa tem se tornado um continente altamente miscigenado visto que muitos grupos estrangeiros têm ganhado forças e crescido dentro do território europeu, levando a uma descaracterização da identidade europeia. Tudo isso tem favorecido para existir uma rixa, ou disputa, entre europeus e imigrantes agravando cada vez mais a situação. Um último motivo que tem sido até mesmo usado como base para justificar a xenofobia é o risco de atentados terroristas. Os atentados na França, que aconteceram recentemente, trouxeram a mente dos milhares de europeus uma questão muito importante: como os terroristas conseguiram entrar na Europa sem serem percebidos? Tudo indica, devido a claras evidências, que por meio das rotas de refugiados. Investigadores franceses afirmam com convicção que foram encontradas na Grécia impressões digitais, como registro, de um dos homens-bomba em um dos postos de controle de refugiados. Além disso, passa portes dos terroristas foram encontrados e um aponta a passagem pela Grécia antes da entrada em solo francês. Por conta desses fatos o medo e insegurança dos europeus só aumentam.

O Brasil é logo ali

Desde o início da guerra na Síria o Brasil tem sido um dos principais destinos dos sírios. Isso acontece não apenas por causa das guerras, perseguições e miséria. Um fator muito influente para isso é que o Brasil se mostrou de braços abertos, como um verdadeiro país receptivo e acolhedor. Se no início da guerra aproximadamente 20 vistos eram emitidos mensalmente de sírios para a vinda para o Brasil, hoje já são mais de 20 vistos emitidos semanalmente. Apoiando a tese de que os sírios que fogem de seu país natal não fogem apenas por causa da pobreza e sim por estarem em busca de paz, tranquilidade e distância dos conflitos violentos observa-se pessoas de diferentes níveis socioeconômicos chegarem ao território brasileiro. Nesta descrição podem ser inclusos pobres e ricos, desde pessoas de baixa renda e escolaridade a indivíduos bem-sucedidos financeiramente e pós-graduados. Muitos destes sentem-se atraídos ao Brasil por saberem que no país já existem muitos outros sírios, e descendentes de sírios, vindos para cá no século 19. Ainda é preciso ter em mente que a vinda para o Brasil se torna uma fuga segura, visto que a ida para o continente europeu, além de muito arriscado, tem ceifado a vida de muitos.

Algo que se assemelha bastante com a vinda dos sírios para o Brasil nestes últimos tempos é o fluxo intenso de entrada de haitianos também no território brasileiro. Isso por causa de um acontecimento datado em 12 de janeiro de 2010. Os haitianos nunca esquecerão tal dia. Era fim de tarde quando o país sofreu um terrível terremoto, diagnosticado como sendo de grau sete na escala Richter. A falta de estrutura do país contribuiu, grandemente, para que milhares de vidas fossem perdidas. O cenário era de um verdadeiro caos, pior do que em filmes, muitos destroços, casas e prédios ao chão, mortos em todo lugar, pessoas debaixo dos escombros, crianças sozinhas após perderem seus pais. Para piorar a situação deve-se ter em mente que as condições ambientais no país não eram boas, a política era muito conturbada e a economia haitiana sofria e esses fatores apenas agravaram a situação. A terra não chacoalhava mais, porém a insegura era clara. Mas, em meio a todo esse sofrimento, surge uma oportunidade única, à volta por cima, a chance de algo melhor: Países abrem suas fronteiras para milhares de haitianos. Um desses países foi o Brasil, que ao fazer isso deu esperança de um futuro melhor, promissor, aos haitianos. Essa esperança, ou expectativa, aliadas a catástrofe ocorrida naquele país, o Haiti, fez com que milhares de pessoas saíssem dali e migrassem para o Brasil naquele mesmo ano de 2010. Por volta desse período duzentos haitianos, de forma rápida, conseguiram adentrar em terras brasileiras. Porém hoje o número hoje é muito maior. Por quê? Isso se deve a outro desastre natural no Haiti que foi o Sandy, nome dado a um furacão, que teve um efeito ainda mais degradante no país, trazendo condições de vida terríveis aos habitantes. Esse fator se aliou a solidariedade, do Brasil que simplesmente abriu suas portas. Como consequência hoje o país abriga mais de 50 mil haitianos por todo o Brasil. Muitos trabalham quase como escravos, não se pode esconder isso. Porém, mesmo nessa situação, os haitianos encontram no Brasil a esperança que eles já achavam não ter. Não apenas os haitianos, mas outros imigrantes que vivem em solo Brasileiro também.

Podemos perceber que no início da crise em 2008 o número de latinos que queriam se mudar para Europa começou a diminuir de uma maneira firme, ao mesmo tempo podemos perceber um grande número de cidadãos deixando os seus países em busca de uma boa qualidade de vida na América Latina. Na Espanha, por exemplo, de uma forma absurda entre o ano de 2007 e 2008 a saída de cidadãos quase triplicou. Em anos recentes estimava-se que na América Latina existiam 8,5 milhões de imigrantes e que destes, cerca de 1,1 milhão tinham vindo de países da Europa. Apesar da crise, que afetou o mundo inteiro, o fluxo migratório para a América Latina estava atingindo índices surpreendentes. A maior porcentagem desses imigrantes era formada por jovens, geralmente solteiros, com bom nível de escolaridade e formação superior, que objetivavam um crescimento profissional longe de suas terras natais. Muitas mulheres também aderiram a esta migração, que buscavam um emprego e uma condição de vida melhor, para poderem enviar parte do que ganhavam para seus familiares em sua terra de origem. Os principais destinos de ambos os grupos eram o Brasil, mas muitos também optaram pelo México e Argentina.

Mediante tudo que foi abordado compreende-se que os fluxos migratórios para alguns é um meio de fugir dos problemas, já para outros representa a fonte dos problemas. Em ambos os casos argumentos são apresentados. Por exemplo para os imigrantes essa migração é a saída para a miséria, guerras e violência. Para quem os recebe eles representam uma ameaça, quer seja por ocupar vagas de emprego, quer seja pela suposição de serem terroristas ou facilitarem a entrada deles. Mas o que pode ser feito para solucionar essa problemática? Uma possível solução seria a Europa, como um todo, permitir a livre entrada de imigrantes desde que sejam fiscalizados e a partir daí sejam legalizadas a permanência no país. Além disso poderiam ser criadas rotas migratórias legais, aliadas a postos de controle, para que o fluxo não se torne desordenado. Ainda mais, os europeus precisam reformar a sua o seu pensamento, eliminando qualquer traço xenofóbico. Por fim uma ressalva: não existem donos de territórios, mas como deixa claro o artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos qualquer pessoa pode deixar o seu próprio país, e a residir dentro das fronteiras de qualquer um Estado, ou lugar.

REFERÊNCIAS:


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